Entre tudo o que existe, tem um espaço. Entre uma cidade e outra, existe uma distância. Entre um dia e outro, existe certo período de tempo. Entre o corpo e a roupa existe um espaço, que, apesar de sutil, nunca passa despercebido: é ele que molda a parte do que escolhemos ser.
Ao nos mexermos, nos expressamos. O espaço construído pelo movimento é espelhado naquilo que nos envolve mais diretamente, o tecido. Ele se transforma a qualquer mínima alteração, fazer uma prega no tecido é transformar completamente seu formato. Por isso, existem tantas formas de representá-lo, e sua representação vai ser sempre discutida.
O tecido no corpo conta uma história, ajuda a criar a narrativa de quem somos. Essa ideia, porém, não se molda somente no tecido quando vestido. Ela está também no tecido depois de usado: parte de nós se encontra na forma em que organizamos as roupas que usamos. O tecido se molda também à forma que o penduramos no armário, que o largamos em cima da cama, ou que apoiamos no encosto da cadeira. 
O pano é o espaço que serve de fundo ao pequeno espetáculo de ser quem somos. Por isso, resolvi representar roupas da forma que elas se apresentam a mim todos os dias: ordenadas no armário. 
Até agora, a representação pode ser divida em dois momentos:
01. desenhos:
grafite 2B sob canson  A4 (21,0 x 29,7 cm),120 g/m​​​​​​​
Primeira aproximação, se deixava levar pelo conhecimento prévio de minhas roupas. Mesmo não as vendo por completo, sabia exatamente a forma de cada uma e, por isso, conseguia delineá-las, imaginando as partes que estavam escondidas. Ilustra meu armário por meio de seus contornos.
02. pinturas:
tinta acrílica sob pano de molde
Segunda fase, procurava representar o espaço como o estava vendo. Ou seja, ao invés de retratar as roupas, retrata os tecidos como se mostram no armário, em sua desordem. Por isso, têm como suporte o próprio tecido, material muito mais maleável que o papel. Não foi à toa que, nas pinturas, consegui representar o que não havia conseguido nos desenhos anteriores: a estrutura do armário, que serve como pano de fundo a toda esta narrativa.          

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