Este trabalho surgiu do universo que nos representam as cores. É inquestionável que, ao olhá-las, percebemos diferentes sensações. A diferença de um quadrado azul a um quadrado vermelho, ou amarelo, só nos é infinita por conta dessa percepção.
A sensação das cores está ligada ao colorido, mas, será que não poderiam ser representadas em preto e branco? Estas colagens se tratam de uma intenção: ver o colorido onde ele não está. Para que isso fosse possível, foi necessário um enorme estudo, cujo resultado está aqui:
vermelho: o vermelho pulsa. Literalmente, ele pulsa. O sangue é vermelho. Se ele não pulsa em nossas veias, é porque estamos mortos. Vermelho é a cor da vida, de tudo aquilo que, de tão visceral, se torna vital. A cor do calor, da força. O fogo é vermelho. Não importa que sua chama mais quente seja a azul, fogo sempre nos será vermelho porque, sem ele, nos faltaria calor e muitos não conseguiríamos existir. A cor da raiva, de tudo aquilo que, de tão pulsante, nos tira dos eixos, nos ensurdece. Para representar o vermelho em preto e branco, portanto, nada melhor que um retângulo que, de tão próximo, não cabe em nosso campo de visão: quantas vezes já não nos enxergamos cegos de raiva?
azul: azul é a cor do horizonte. Em uma pintura, tudo aquilo que está longe é azulado (névoa, como a ilustramos, é assim). Estamos falando da cor da distância. Ela representa aquilo que podemos confiar e que, consequentemente, nos deixa tranquilos. É a cor daquela amizade verdadeiramente duradoura com que, independente da distância, sempre podemos contar. É a cor do mar, é a cor do céu. Nada é tão pacífico quanto um oceano, tão sereno quanto ele. E, se por acaso, algum dia não existir o mar, ou o céu não amanhecer azul, é sinal de algo muito errado. Instintivamente, sempre confiamos no azul. Por isso, em preto e branco, é um retângulo contínuo, abaixo do horizonte: apesar do céu, azul é o nosso chão.
amarelo: o amarelo é a mais clara e vibrante das cores. Por isso, é também a mais instável de todas elas (basta um pouquinho de azul para que ele se torne verde, ou de vermelho para se tornar laranja). Não à toa, na maior parte das vezes que vemos amarelo, somos tomados por uma energia tão enérgica que causa até irritabilidade. Resumidamente, estamos falando de tudo aquilo forte, rápido e passageiro (a eletricidade que em fração de segundo pode ser desligada, ou o sol que certamente não brilhará por 24 horas). A representação do amarelo em preto e branco não poderia ser outra que o mais instável dos traços: aquele que nunca fará parte do ângulo reto. 
verde: dentro do universo artístico, o verde é uma cor secundária (a junção do azul e do amarelo). Porém, tamanha é sua importância para a vida, que, a nossa percepção, o verde sempre será primário. Estamos falando da natureza, de como ela se revela, de seus principais ciclos. Verde é a cor de tudo aquilo que é natural, da vida em sua maior fluidez. As florestas são verdes, porque as folhas são verdes. A fotossíntese é verde: ela combina o amarelo da luz e o azul da água. O verde é aquela certeza de renovação (a esperança e a sorte são verdes também). Em preto e branco, ele só poderia ser um aro circular, sem começo nem fim: o verde é aquele consolo do fim ser um novo começo.
violeta: o violeta é definitivamente uma cor secundária e, sendo a união do azul (distante e tranquilo) com o vermelho (pulsante e inflamável), não poderia representar outro elemento que não o artificial. Nada na natureza é violeta, com a exceção de alguma flores que, em meio ao natural, sempre se destacam. Flores, naturalmente, servem para se destacar e, por isso, podem ser dessa cor, quando nada mais o é. Nem mesmo a paisagem urbana (sempre criada pelo homem) tem violeta. Ele é artificial demais, nunca será espontâneo (não é à toa que violeta é o oposto complementar do amarelo, cor do fluxo e da espontaneidade). Por isso que, em preto e branco, o violeta só poderia se representar por um losango: aquele quadrado que foi artificialmente rotacionado a 90º, a ponto de nem mais parecer possuir ângulos retos.
rosa: rosa pertence ao grupo das cores terciárias. Com o branco, o vermelho perde sua pulsação para se tornar sempre próximo, próximo até demais. Rosa é a cor do doce, de tudo aquilo que é meloso. Açúcar demais dá sede. Melar a mão é insuportável, temos que lavá-la o mais rápido possível. Não é à toa que rosa é a cor do kitsch: uma enorme quantidade de detalhes e pequenezas completamente desnecessárias ao básico. O rosa não é essencial, mas é doce. Como já diz o próprio dito popular, "não põe a mesa, mas melhora a sobremesa". Rosa é também a cor da infância, do carinho, a cor do sonho que zelamos. Por seu caráter ambíguo, ele certamente não poderia se representar por uma forma só. Em preto e branco, o rosa é uma união de pequenos círculos: bolhas de sabão nos fazem sonhar, em compensação, estar dentro delas pode ser asfixiante.

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